segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Miragem de um oásis seco

 
Teus olhos já não eram os mesmos daquele tempo
Bons tempos da jovem gente
Das relações claras e das ocultas que se formaram
Há alguns anos atrás

Quando sinto, me vem aquela tarde
Chance ápice para uma mistura
Teus lábios vívidos a me sussurrar aos ouvidos
Bobagens hesitantes de costume achar


Na procura por mim em ti
Achei o que precisava achar
E nada mais eu quis ouvir!

Na procura por mim em ti
Naquele momento só
Nosso novinho mundo sentiu
                                   [e partiu


De certo um choque às escuras
Que sucede o gozo protraído
Não mais que isso me poderia dar


La fora a chuva cai
Como outras caíram
Levam consigo mágoas desbotadas
De um estranho inverno

E das lembranças daquela época
És um sonho bom
Uma utopia no fogo...
Em uma noite de primavera quente.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Procuro

Talvez seja eu mais um sonhador
Se estás nessa, me vou
Atrás d'um beijo corado
Da cabeça inexata!
E em meus sonhos achados
Podes não estar mais

terça-feira, 21 de setembro de 2010

A caixa de fogo

De outrora, aventuras
Agora morta, sem paz transmitir,
Nem luz
Num quarto, deitada no chão
Roupas e doces como adorno
De tantos mundos e vidas,
Aberta no chão, sem vida, sem mãos,
Sem fogo, sem nada!
À espera da mão
De aventuras, de outrora.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Enfim, o fim

Era tanta coisa! Meu Deus! Por favor, acaba!
Cabou... Acabou. A-ca-bou. Fim.
Em um mês de "total" responsabilidade (tinha aqueles que diziam que eu ainda estava meio vagabundo), vi que é difícil conduzir uma vida séria.
Não ri pouco.
Colher informações de um texto. Anexar-se a um grupo já formado. Coisas do passado... (Estimo por isso)

-Vou pra casa estudar.
-Rapaz, tem festa hoje.
-Ah, você tem razão. Vamos à festa!

Por que é assim? O "mal" te puxa. É inevitável.
É sempre, SEMPRE, isso. Casa. Faculdade. Casa. Faculdade. Casa. Bar. Faculdade.
O que é isso?
Na televisão, Copa. Tá acabando. Acabou. Chata... No fim, é claro. Viva à Fúria! Fúria...

-Tem que fazer essa prova, cara.
-Tá. Beleza. Me passa as questões aí.
-Aqui.
-Valeu, pai. Oi meninas...

Na televisão, Bruno. Que é isso? Sou só eu o enjoado? Porra. Não acaba nunca.
Ouço um zumbido.Um Bicho de Sete Cabeças? Eu sou ele? Se sou ele, não sou. Apenas ouço.
Entre cães e rios. Entre complexos e complexados. Ingênuo e malicioso. O bonzinho e o cínico. Surgem meus críticos.
Como gosto de ouvir Geraldo Azevedo. Bom som.
"Welcome to the new age".
Eu aceito. Faço um macarrão instantâneo. Essa história de três minutos nunca me enganou...
Faculdade de novo. Rio. Bonito rio que, pra me inspirar, vira mar. Ele e a moça debruçada na ponte. A lua. Ah, Lua!

Esperar o fim. Esperar? Viver o fim. Acabar com tudo. Viver.
Observar quem não descobriu o fim. O fim de tudo. De suas convicções; sua metamorfose. Sem precisar virar um inseto. Virar inseto. Por que não?

-Cara, anda logo. Vai ou não vai?
-Calma, irmão, tô pensando.
-Velho, quem pensa a ação mais de uma vez faz ela deixar de se chamar ação.
-...Poxa. Tem razão. Vamos lá! Mas, essa frase não é sua, é?
-Acho que é Shakespeare.
-Ah... Bora logo!

Pensar de mais é menos. Muito menos. Nada.
Na televisão, vida e sua extinção. Cultura e crime. Esporte e moda. Esporte é moda.
Minha irmã comentava o jogo da seleção.

-Dunga convocou errado. A Holanda tem jogadores bons e deu nisso. Os jogadores dele (Holanda) tão em times melhores lá na Europa. Ai ai. ...Será que o Brasil vai conseguir ir pra próxima Copa? Com esse time, acho que não. E é aqui no Brasil! Como é que pode?

Por que as mulheres se transformam em comentaristas durante a Copa?
Minha mãe retrucava: - Po, Dunga foi mal, viu? O coitado do Maradona também saiu, né? Eu queria que ele continuasse...

Saio de casa. Pensar. Respirar. Preciso disso. Olhar as pessoas. Ser visto. Ser conhecido e reconhecido. A gente precisa disso. "Boa noite", alguns ainda cumprimentam. Povo frio. Povo. Medo.

Lá está ele. O rio que vira mar pra mim. Lindo. Poético. E a moça lá de novo. Debruçada na ponte. Quem é? Ela de novo?

- Oi.
- Olá.
- Lindo, né?
- Sim. Sempre venho aqui olhar o reflexo da lua...
- É, realmente, muito lindo.

Acabava de encontrar meu fim. Um deles. O melhor dos fins.
Encontrar a moça que vem do mar.
Que fim.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Um último carinho

Ela gostava dele. Não no início, não mesmo. Era rude, ignorante, má. Ele, não. Ele gostava dela. No início, sim, no início. Era amável, carinhoso, bom. Ela, como já falei, não.
Se conheceram na rua. Um dia não tão bonito, chovia, a cidade estava imunda. Na praça principal da cidade foi quando os olhares se fundiram, um encontro especial, aos olhos dele. Não passava de mais um na rua, para ela. Por isso o olhar apático lançado a ele. Contudo, ficaram juntos. E ela foi morar com ele.
Durou pouco, algo entre cinco e seis meses. Foram felizes, ninguém imaginava isso. Uma alegria espontânea brotou entre os dois. Estavam vivendo a melhor fase de suas vidas. E ambos concordavam isso. Uma difícil conquista, visto que o início foi desastroso para ele. Agora, com carinho e afeto, amavam-se. "Chocolate" era como ele a chamava carinhosamente. Coisa típica, essa de dar apelidos amorosos. Bonito. Isso era, e todos em volta reconheciam profundo amor.
O tempo passa, as coisas mudam. E com tal relacionamento não foi diferente. Ela começava a tornar-se boba, para ele. Ele continuava o mesmo cara de sempre. Ela o via assim. Amava-o. E afagava-o toda noite quando deitava. Doce esperança de que fosse recíproco o carinho, como era antes, no auge da relação. Mas, não, ele não retribuía mais. Estava frio, ele sabia que estava frio! Gostaria de amá-la como antes. Não conseguia mais. O fim era iminente, estava claro, para ele. Apenas para ele. Ela disfarçava, fingia que tudo ia bem, que tudo continuava bem.Queria que tudo estivesse bem!
(Suspiro) "Não dá mais" desabafou. Sofria por tal decisão. Lembrava-se agora dos bons momentos vividos com ela. "Ah, minha gata...!" murmurava. Mas estava inabalável no seu propósito. Sabia da futura nostalgia, sabia quão difícil seria...
A campainha toca. Ela já estava pronta para isso. Sentia que isso aconteceria mais cedo ou mais tarde. Ele abre a porta. Uma menina de uns doze ou talvez treze anos, com uma caixa nas mãos diz:"Bom dia, tio! Vim pegar a gata que o senhor falou no telefone. Tá onde, ela?" "Pode vir aqui, ela está logo ali" Respondeu, sereno. A menina apanha a gata. Ela não luta. Apenas olha para o dono, seu olhar é suplicante. Ele nota, se emociona. Faz um último carinho nela. E despede-se da menina: "Adeus, cuide bem dela...". Fecha a porta.
Olha sua sala. Contempla aquele vazio, agora sombrio.
Volta-se para o sofá. Senta. Imagina como será o próximo mês, chuvoso ou ensolarado? "Espero que seja ensolarado" diz, só.